terça-feira, 23 de outubro de 2012

Declaração de Salamanca - 1994, não foi assim há tanto tempo!!

 
 
 Reafirmando o direito à educação de todos os individuos, tal como está inscrito na Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948, e renovando a garantia dada pela comunidade mundial na Conferência Mundial sobre a Educação para Todos de 1990 de assegurar esse direito, independentemente das diferenças individuais.
 
Relembrando as diversas declarações das Nações Unidas que culminaram, em 1993, nas Normas das Nações Unidas sobre a Igualdade de Oportunidades para as Pessoas com Deficiência, as quais exortam os Estados a assegurar que a educação das pessoas com deficiência faça parte integrante do sistema educativo.
 
Notando com satisgação o envolvimento crescente dos governos, dos grupos de pressão, dos grupos comunitários e de pais, e, em particular, das organizações de pessoas com deficiência, na procura da promoção do acesso à educação para a maioria dos que apresentam necessidades especiais e que ainda não foram por ela abrangidos; e reconhecendo, como prova deste envolvimento, a participação ativa dos representantes de alto nivel de numerososo governos, de agências especializadas e de organizações intergovernamentais nesta Conferência Mundial.
1.
Nós delegados à Conferência Mundial sobre as Necessidades Educativas Especiais, representando noventa e dois países e vinte e cinco organizações internacionais, reunidos aqui em Salamanca, Espanha, de 7 a 10 de julho de 1994, reafirmamos, por este meio, o nosso compromisso em prol da Educação para Todos, reconhecendo a necessidade e a urgência de garantir a educação para crianças, jovens e adultos com necessidades educativas especiais no quadro do sistema regular de educação, e sancionamos, também por este meio, o Enquadramento da Ação na área das Necessidades Educativas Especiais, de modo a que os governos e as organizações sejam guiados pelo espirito das suas propostas e recomendações.

 2.
Acreditamos e proclamamos que:
  •   cada criança tem o direito fundamental à educação e deve ter a oportunidade de conseguir e manter um nível aceitável de aprendizagem;
  • cada criança tem caracteristicas, interesses, capacidades e necessidades de aprendizagem que lhe são próprias;
  • os sistemas de educação devem ser planeados e os programas educativos implementados tendo em vista a vasta diversidade destas caracterisiticas e necessidades;
  • as crianças e jovens com necessidades educativas especiais devem ter acesso às escolas regulares, que a elas se devem adequar através duma pedagogia centrada na criança, capaz de ir ao encontro destas necessidades;
  • as escolas regulares, seguindo esta orientação inclusiva, constituem os meios capazes para combater as atitudes discriminatórias, criando comunidades abertas e solidárias, construindo uma sociedade inclusiva e atingindo a educação para todos; além disso, proporcionam uma educação adequada à maioria das crianças e promovem a eficiência, numa ótima relação custo-qualidade, de todo o sistema educativo.
3.
Apelamos a todos os governos e incitamo-los a:
  • conceder a maior prioridade, através das medidas de politica e através das medidas orçamentais, ao desenvolvimento dos respetivos sistemas educativos, de modo a que possam incluir todas as crianças, independentemente das diferenças ou dificuldades individuais;
  • adotar como matéria de lei ou como politica o principio da educação inclusiva, admitindo todas as crianças nas escolas regulares, a não ser que haka razões que obriguem a proceder de outro modo;
  • desenvolver projetos demonstrativos e encorajar o intercâmbio com países que têm experiência de escolas inclusivas;
  • estabelecer mecanismos de planeamento, supervisão e avaliação educacional para crianças e adultos com necessidades educativas especiais, de modo descentralizado e participativo;
  • encorajar e facilitar a participação dos pais, comunidades e organização de pessoas com deficiência no planeamento e na tomada de decisões sobre os serviços na área das necessidades educativas especiais;
  • investir um maior esforço na identificação e nas estratégias de intervenção precoce, assim como nos aspetos vocacionais da educação inclusiva;
  • garantir que, no contexto duma mudança sistémica, os programas de formação de professores, tanto a nível inicial como em serviço, incluam as respostas às necessidades educativas especiais nas escolas inclusivas.
4.
Também apelamos para a comunidade internacional; apelamos em particular:
  • aos governos com programas cooperativos internacionais e às agências financiadoras internacionais, especialmente os patrocinadores da Conferência Mundial de Educação para Todos, à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), ao Fndo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), ao Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD), e ao Banco Mundial:
    • a que sancionem a perspetiva da escolaridade inclusiva e apoiem o desenvolvimento da educação de alunos com necessidades especiais, como parte integrante de todos os programas educativos;
  • às Nações Unidas e às suas agências especializadas, em particular à Organização Internacional do Trabalho (OIT), à Organização Mundial de Saúde (OMS), UNESCO e UNICEF:
    • a que fortaleçam a sua cooperação técnica, assim como reforcem a cooperação e trabalho, tendo em vista um apoio mais eficiente às respostas integradas e abertas às necessidades educativas especiais;
 
  • às organizações não-governamentais envolvidas no planeamento dos países e na organização dos serviços:
    • a que fortaleçam a sua colaboração com as entidades oficiais e que intensifiquem o seu crescente envolvimento no planeamento, implementação e avaliação das respostas inclusivas às necessidades educativas especiais;
 
  • à UNESCO, enquanto agência das Nações Unidas para a Educação:
    • a que assegure que a educação das pessoas com necessidades educativas especiais faça parte de cada discussão relacionadas com a educação para todos, realizada nos diferentes fóruns;
    • a que mobilize o apoio das organizações relacionadas com o ensino, de forma a promover a formação de professores, tendo em vista as respostas às necessidades educativas especiais;
    • a que estimule  a comunidade académica a fortalecer a investigação e o trabalho conjunto e a estabelecer centros regionais de informação e de documentação;
    • que mobilize fundos, no âmbito do próximo Plano a médio Prazo (1996-2000), através da criação dum programa extenso de apoio à escola inclusiva e de programas comunitários, os quais permitirão o lançamento de projetos-piloto que demonstrem a divulguem novas perspetivas e promovam o desenvolvimento de indicadores resolvidos às carências no setor das necessidades educativas especiais e aos serviços que a elas respondem.
5.
Finalmente, expressamos o nosso caloroso reconhecimento ao Governo de Espanha e à UNESCO pela organização desta Conferência e solicitamo-los a que empreendam da Ação que a acompanham ao conhecimento da comunidade mundial, especialmente a fóruns tão importantes como a Confederação Mundial para o Desenvolvimento Social (Copenhaga, 1995) e a Conferência Mundial das Mulheres (Beijin, 1995).
 
 

Aprovado por aclamação, na cidade de Salamanca, Espanha, neste dia, 10 de Junho de 1994
 
 
... E em 2012, sai uma Portaria (275-A/2012) ... não é esse o futuro que quero para o meu filho!!
 

sábado, 6 de outubro de 2012

Surf para todos?

 
 
O Pedro iniciou há pouco tempo a atividade de surf adaptado.
 
E ... parece que sim ... o surf poderá ser para todos!
 
Porque o puto era excelente a andar na trotineta, que o acompanha para todo o lado...Porque ele adora a praia e o mar ...
Porque estava mais que na hora de fazer alguma atividade fisica ... adequada à sua condição e competências...
Porque o pai descobriu que havia surf adaptado a pessoas com limitações fisicas e necessidades educativas especiais...
 
Observámos o que se fazia e como se fazia. Passamos pela aula experiemental, e de seguida ... mergulhámos nesta aventura.
 
E desde então, tivemos um final Verão diferente, tal como tem sido diferente este inicio de Outono, a rumar até à praia.
 
Aproveitando que o Pedro está em "modo água", percebemos as possibilidades de trabalhar a integração sensorial a vários níveis:
  • resistia a vestir o fato de surf. Foi importante fazer trabalho em casa, porque para ele era um desconforto enorme aquelas sensações (objetivo atingido, agora quase que o veste sózinho);
  • o desconforto da areia nos pés molhados;
  • o barulho das ondas;
  • a força do vento;
  • a chuva a cair no mar...
E depois ...
  • o trabalho de equilibrio em cima de uma prancha, deitado, de joelhos, em pé;
  • o remar - o puto rema com força, mas com os dois braços ao mesmo tempo;
  • a aprendizagem de realizar pequenas tarefas com principio, meio e fim;
  • a reação ao confronto com a onda, por muito pequena que seja;
  • o confronto com os seus próprios medos (que ainda são muitos);
  • o desafio de sair da sua zona de conforto;
  • o saber cair à água;
  • o insistir, persistir e não desistir;
  • a capacidade de resistência à frustração;
  • a motivação de estar num contexto que adora;
  • o contacto com a natureza;
  • a perspetiva de mais uma experiência de inclusão para o curriculo;
  • os ganhos maior resistência fisica;
  • e a possibilidade de uma noite de sono mais tranquila ...
Encontrámos uma equipa de técnicos que acredita no trabalho que faz com os miudos, independentemente das suas capacidades fisicas e cognitivas. Obrigada ao professor Edgar e ao professor Nuno do Special Surf 78 (aqui também), por partilharem a vossa experiência com o puto.
 
Não sabemos qual será o futuro desta aventura, até onde o Pedro conseguirá chegar, nem qual será a capacidade do nosso investimento, quer logistico, de tempo ou mesmo mental.
E apesar de continuarmos, com avanços e por vezes alguns recuos, para o pai, a mãe e até a irmã, inunda-nos uma enorme sensação de bem estar e de uma maior auto-estima, por observarmos algumas das competências que o puto está a adquirir. 

 A aventura tem sido deliciosa!
 

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Em modo "ÁGUA"...

 
Estamos numa fase em que ...
 
o puto vai à praia uma vez por semana, e entre outras coisas ... mergulha,
 
vai à piscina, uma a duas vezes por semana e mergulha,
 
vai à banheira todos os dias,  e diz que está a mergulhar,
 
sofre por ver o "Nemo" quando chega a casa, e vibra com a história do peixe...
 
Estamos portanto em modo "ÁGUA"!

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Categorizações do acreditar ...

Ao longo destes anos, e de um considerável currículo em experiências, intervenções, estimulações, e outras coisas acabadas em "ões", conhecemos uma variedade de pessoas, técnicos, amigos, conhecidos, que entraram nas nossas vidas, e que sistemática ou esporadicamente nos vão fornecendo informação, ou mera opiniões, sobre o desenvolvimento do Pedro, nas mais variadas situações.

Surgem  aqueles que acreditam, muito, que o Pedro está diferente para melhor. Aqueles que acreditam que ele está a evoluir, ainda que os momentos de estagnação sejam mais longos que as suas expectativas iniciais. Estes persistem e não desistem.

Depois também já conhecemos aqueles que  não se envolvem muito. Vão fazendo algumas coisas mas, sem grande expressão de sentimentos ou afetos. Estão ... somente ...

Também há outros, os meros observadores. Estes apesar de não se envolverem, gostam de dar opinião.

Conhecemos igualmente os "não vale a pena", ou também conhecidos por "isso não vai dar em nada". Por fim, sabemos da existência dos "não quero saber".

Não pensem que esta categorização serve de critica ou para apontar o dedo a quem está às vezes fora de um nucleo familiar com criaças com autismo. Também passamos por estas experiências e estados de in/satisfação, envolvimento, distanciamento, desesperança, convicção ... Sim, estas crenças e sentimentos também se abatem sobre nós e fazem os dias ser mais ou menos dificeis.

Mas como a Fénix morreu há pouco e renasceu das cinzas, estou na tentação de me rodear só pelos que acreditam, e que apesar de muitas vezes não verem nada a acontecer, continuam a envolver-se, a investir e a trabalhar com o puto, certos de melhores dias.

A estes, o meu muito obrigada, não sabem o efeito que conseguem ter na auto-estima de uma mãe!

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Primeira semana de escola...



Não parecia, mas o puto apresentou-se nervoso no primeiro dia. Com aparente tranquilidade, participou nas atividades da sala, e apresentou alguns contributos sobre as suas férias. Reconheceu os colegas, consegue identificá-los e foi responsável por algumas tarefas na sala de aula.

Sala de Ensino Estruturado a funcionar a meio gás, troca o nome das professoras por outros técnicos do ano anterior, mas nada de preocupante. Também aqui segundo parece, tranquilo, conversador (à sua maneira, é claro) e um pouco mais explorador que anteriormente.

Na terapia individual foi onde se notou mais as mudanças de rotina nesta semana: mais distraído que o seu normal, mais respostas automáticas e mais falar sozinho.

Em casa, mais cansado e na tentativa de se sentir seguro. Com o quê? Pediu para ver o filme do Nemo todos os dias.

Terminamos a semana com uma aula de surf adaptado, que o deixou KO. Espero que acorde depois das 8.30h, amanhã de manhã.


quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Como a fénix que renasce das cinzas...



A fénix é um pássaro da mitologia grega que, quando morria, entrava em auto-combustão e, passado algum tempo, renascia das próprias cinzas. Outra característica da fénix é sua força, havendo lendas nas quais chega a carregar elefantes, podendo transformar-se numa ave de fogo.
 
Teria penas brilhantes, douradas, e vermelho-arroxeadas. No final de cada ciclo de vida, a fénix queimava-se numa pira funerária. A vida longa da fénix e o seu dramático renascimento das próprias cinzas transformaram-na em símbolo da imoratalidade do renascimento espiritual.
 
... quando a ave sentia a morte aproximar-se, construía uma pira de ramos de canela, sálvia e mirra em cujas chamas morria queimada. Mas das cinzas erguia-se então uma nova fénix, que colocava piedosamente os restos da sua progenitora num ovo de mirra e voava com ele à cidade egípicia de Heliópolis, onde os colocava no Altar do Sol.
 
Atualmente os estudiosos creem que a lenda surgiu no Oriente e foi adaptada pelos sacerdotes do Sol de Heliópolis como uma alegoria da morte e renascimento diários do astro-rei. Tal como todos os grandes mitos gregos, desperta consonâncias no mais íntimo do homem.
 
A crença na ave lendária que renasce das próprias cinzas existiu em vários povos da antiguidade como gregos, egípcios e chineses. Em todas as mitologias o significado é preservado: a perpetuação, a ressurreição, a esperança que nunca têm fim.
 
(informação e imagem retiradas daqui)
 

Ao longo destes ultimos meses foi uma avalanche de situações e acontecimentos menos bons que nos inundou o dia a dia. Como depois das tempestades vêm as bonanças, parece que muitas vontades ressurgiram de modo resuscitar o projeto aba. Esperemos que este ciclo da fénix demore algum tempo até ao fim da sua próxima morte...
 

domingo, 1 de janeiro de 2012

2012... Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida...

Mais um marco que permite olhar para trás e perspectivar os próximos tempos. Novos desafios, angustias, ansiedades e conquistas vão rechear este ano que se aproxima. A dúvida e a surpresa também nos vão acompanhar nesta nossa caminhada...

Hoje tudo ainda é um estado de ilusão, que no futuro próximo ou longiquo, se materializa em sorrisos ... ou não... Veremos...

Veste a Diferença (video)